segunda-feira, 18 de maio de 2009

Entrevista de emprego

Dei um beijo em minha mulher, que ainda permanecia dormindo. Fui até o quarto dos meus filhos. Chris já tinha acordado, mas ainda permanecia na cama. Maggie dormia como um anjo.
-Bom dia, filho - disse baixinho para Chris.
-Bom dia, pai. - respondeu com um bocejo.
-Te amo - completei.
Beijei-lhe o rosto. Contemplei Maggie por alguns minutos enquanto meu filho ia ao banheiro.
-Te amo, linda- sussurrei ao ouvido dela.
Beijei sua testa, voltei para meu quarto.
Estava consternado, a situação era complicada e com a crise da bolsa... Não estava fácil. Perdi meu emprego havia seis meses. Não conseguia outro. Eu sabia o que era.
-Amor.
Mas isso iria acabar, eu daria a mensagem.
-Amor.
Seria hoje.
-Amor! - gritou minha mulher, agora acordada, ainda na cama.
-Ãh, o que foi? – perguntei ainda meio pensativo.
-Não me ouve mais?
-Claro que ouço.
-Pois não parece. - falou um pouco chateada.
-Me desculpe.
-Só queria te desejar boa sorte na entrevista de hoje. Não precisa pedir desculpas. - disse me dando um sorrisinho.
Sorri amavelmente. Olhei-a nos olhos, pisquei para ela. Então me virei e fui em direção a porta do quarto:
-Preciso sim. - sussurrei para que ela não ouvisse.

Fui à cozinha, peguei um papel e uma caneta e escrevi algo de que não recordo.

Fritei dois bacons e dois ovos, coloquei-os em um prato e comi. Para acompanhar tomei um suco de laranja.
Cheguei ao local da entrevista de hoje, a Associação Cívica Americana, não seria mais uma entrevista cotidiana. Não desta vez. Entrei, soltei uma expressiva gargalhada. Todos que estavam ao redor olharam com espanto. Eu mostro pra vocês! Esses malditos latinos, árabes, estrangeiros ladrões de empregos. A entrevista começara:
- Estão gostando, gostam da América? - gritava parecendo um lunático.
Esse louco se apoderou de mim. Não era mais eu. Não recordo mais de nada. Tudo se apagou. Até... Ver minha cabeça estourada. Estava morto, rodeado por mais treze corpos. Eu e mais treze. Em uma sexta-feira. Sexta-feira treze. Engraçado.
Voltei para casa. Minha mulher chorando. Agora eu olhava as coisas de cima.
E no papel estava escrito:
-Estou levando minha arma para acabar com a praga desse país, para que talvez meus filhos consigam o que não mais consegui. Um emprego. Me desculpe.

Autor: Pedro Henrique Piussi Bitencourt (Estudante de Engenharia de Produção)

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