quarta-feira, 8 de julho de 2009

Rosas Brancas

Fazia exatamente um ano desde que Suzana estivera ali pela última vez. Como era duro estar entre aquelas paredes novamente. O pó havia se acumulado em cima dos móveis, poucas coisas ainda possuíam o brilho de antes. O vaso, que ficava cheio de rosas, estava começando a amarelar, a mesa já não apresentava o tom rosado que possuía. A pilha de jornais continuava debaixo da escada. Foi, então, que ela aproximou-se da janela. Tocou com a ponta dos dedos a cortina que havia se tornado áspera por causa do tempo, e afastou-a para que entrasse um pouco de luz no ambiente.

Encaminhou-se para o outro lado da sala. Tantas lembranças... Era-lhe quase impossível estar ali e não derramar uma lágrima. Parou diante da lareira que, agora, servia somente para abrigar inúmeras teias de aranha, ali restavam somente cinzas de um tempo que certamente jamais voltaria. Ela bateu o pó de cima de uma poltrona de couro e sentou-se diante da lareira, como fizera muitas vezes antes. Dessa vez lhe foi impossível deter as lágrimas. Apesar da visão turva, ela percebeu os porta-retratos em cima da lareira; estavam empoeirados, mas isso não lhe impedia de distinguir os sorrisos. Uma lágrima molhou o pó sobre o vidro. Ali, juntos na foto, o que eram apenas lembranças de um sonho tornava-se outra vez real.

Quase quinze anos haviam se passado desde o incidente e ela ainda não havia conseguido esquecer. A noite tempestuosa, o telefone que não tocava, aquela porta que não se abria. A mesa posta, as rosas dentro do vaso perfumavam o ar e o fogo na lareira aquecia a sala. Seria uma noite perfeita. De repente, o telefone toca, a notícia, o desespero, a solidão. Ela fechou os olhos, com apenas um suspiro foi como se estivesse revivendo tudo de novo.

Desde que Pedro partira, ela jamais conseguira voltar a morar em sua casa, pois ela estava impregnada das lembranças e era doloroso demais relembrar. Voltava, apenas, de tempos em tempos quando a saudade vinha, como uma mão, apertar sua garganta. Tanto tempo se passara, e a cada vez que voltava era como se ele ainda estivesse ali. Suzana levantou-se e subiu as escadas lentamente. Os degraus rangiam e o tapete já havia perdido sua cor. Ela abriu a porta do quarto, uma brisa leve tocou seu rosto, certamente parte de uma lembrança, de um dos muitos suspiros que ficaram perdidos pelos cantos da casa. Foi, então, que seus pés não conseguiram mais se mover, e dali, da porta do quarto, ela não podia acreditar no que seus olhos viam.

O sol entrava pela janela do quarto e dava diretamente em cima dos lençóis, que se conservavam tão brancos quanto da última vez que estivera ali. As rosas brancas, tão frescas como se tivessem sido colhidas ao amanhecer, enfeitavam sua cômoda e perfumavam o ar. A água no jarro, as toalhas brancas, sua escova de cabelos, tudo estava como antigamente. Mas como, se havia um ano que não estivera ali? Olhou para o lado e sentado próximo à janela, na sua velha cadeira de balanço estava Pedro, tão lindo e tão seu como no dia em que a morte o levara. Ele se levantou, pegou as mãos dela e sorriu-lhe como sempre fizera ao chegar a casa após o trabalho.
“Estava esperando por você, minha querida, por que demorou tanto?” Ela apenas sorriu, fechou os olhos e abraçou seu grande amor. Só que desta vez foi pela eternidade.

Franciela Arenhart Soares – Estudante de Letras (UFRGS)

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